domingo, 29 de novembro de 2009


PEQUENA


É chegada a imemorial e nova hora, infelizmente preciso ir embora, não tenho mais dinheiro para a passagem, você me ajudou a gastar, vai ajudar a recuperar, e não me venha com suas filosofias intrigantes, que é fácil pensar nisso agora que se tem a certeza do conforto da casa, vamos lá, vamos agir, ao dizer isso deu o último tapa, guardou a ponta no cemitério e algemou sua mão esquerda à mão direita da pequena samambaia, apelido dos cabelos, pequena bela, apelido do corpo, pequena geniazinha, apelido adquirido através das idéias trocadas com os professores que só queriam desfrutar de sua deliciosa região glútea.

O dia estava quente, o céu era mar, o mar refletia o céu, pontos de sangue em forma de salva-vidas ajudavam os prováveis afogados se fosse noite, não pelas ondas, que são mais brandas neste período, mas pelos bêbados realmente não saberem nadar, não terem reflexo suficiente para nada(R).

Quando você me soltar vou te explanar pra todo mundo, conheço formas de te difamar tanto que seu cheiro se aproximando já vai ser motivo de dispersão para quem estiver numa errada, choramingou a pequena, obrigada a ficar em pé, no sol, algemada a um louco, se é que loucos têm um semblante tão sereno e observam a paisagem pintada de ouro de um lindo fim-de-semana com um perfil tão constante.

Gostaria de fumar outro aqui com você, disse ele, Tá maluco, cara, vamos rodar, me seqüestra e ainda quer me colocar na merda, Fica quieta, você sabe muito bem que não pode ir embora, na verdade VOCÊ seqüestrou meu coração e quer minha vida como resgate, isso eu não aceito, e dito isso soltou a algema e saiu andando, a pequena ficou parada até que ele se tornou um ponto tão distante que seu cheiro já não seria suficiente para deixar ligado nem um cão com o mais apurado faro, e então ela correu, correu, a calçada aumentava de comprimento e largura a cada salto, caixa de fósforos, caixa de sapatos, caixa de televisão, de geladeira, caçamba de caminhão, campinho de várzea, Gávea, Mineirão, Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil, América do Sul, planeta(dor) Terra, todo o universo quadrado, retangular, parecia que jamais o alcançaria, relativismo não serve para nada numa hora dessas, talvez ela tentasse ser a mais objetiva possível, te amo, por favor, volte, tenho medo do escuro, de fantasmas, de eclipse, medo de estar sem você.


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