segunda-feira, 19 de abril de 2010


separou do vômito os sólidos e os líquidos
em cantos distintos da embrulhada cabeça,
depois omitiu ao espelho que a tarde sombria
padeceria sem chance de salvação;

a vontade era extirpar rins e fígado
dos anjos voadores e mentirosos
e arrebentar todos os nexos
da ambígua deserção do mundo,

mas o dia raiou e o sonho chegou,
pesadelo levado nas águas da torneira
pra algum fundo de esgoto
que um dia foi rio também.

quinta-feira, 8 de abril de 2010


era difícil ficar um dia sem vomitar. era a sua limpeza espiritual, a forma que encontrou para resistir aos ataques insanos do dia a dia.
um belo dia vomitou em cima de seu "chefe" e pensou que voltaria a viver uma vida feliz.
saiu pelas ruas a gritar que já não mais precisaria usar tal forma de expressão, a golfada.
não viu o caminhão que carregava centenas de galinhas pro aviário e vinha em sua direção.
alguns ovos caíram dos solavancos da scania bem em cima da sua cabeça e banhado em clara e gema e cascas ele sentou no meio fio, acendeu um cigarro e ficou olhando para as pessoas que admiravam seu estado deplorável.
apagou o cigarro e vomitou.

segunda-feira, 5 de abril de 2010


era assim que se vendia pelas ruas:
se achava melhor
e mais sabido;

o caminhão de entregas tombou
sobre seu mundo,
morreu afogado
no vinho.

os passantes olhavam
e tentavam reconstruir
o seu rosto amassado,
a face rasgada
pelos cacos de vidro;

durante algum tempo
ainda lembraram
de tal educação exemplar,
mas depois foi esquecido
como mais um do mangueio
que não foi muito à frente...